quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Para os fãs do Rei Leão!

Hoje deparei-me com um artigo muito interessante e que dá que pensar. O Rei Leão foi o primeiro filme de animação que a minha irmã e eu vimos no cinema e como este filme faz este ano 20 anos (como o tempo passa), significa que o vimos com  as idades de 5 e 10 anos. Posso dizer-vos que foi um filme marcante para ambas e que ainda hoje é um dos nossos filmes de animação preferidos e espero sinceramente que tantos os meus filhos como os dela encontrem a paciência para saber apreciar uma história tão bonita...



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O "Rei Leão" já tem 20 anos: hoje em dia não seria realizado

Henrique Raposo
 Quinta feira, 2 de janeiro de 2014
Ontem percebi que o "Rei Leão" já tem 20 anos. Sim, o Simba já passou a adolescência, o que quer dizer que eu vou a caminho dos 35. Não é por acaso que os meus primos mais novos me tratam por tio. E, com esta profética idade de tio-que-é-primo, posso garantir que "Rei Leão" não seria realizado hoje em dia. No ano da graça de 2014, seria muito difícil, quase impossível, fazer um filme para crianças tão adulto, tão negro, tão shakesperiano como "Rei Leão". Se tivessem surgido com a ideia ontem e não em 1994, Roger Allers e Rob Minkoff (os realizadores) não teriam agora a liberdade criativa e o dinheiro para desenvolvê-la. No espaço de uma geração, a infantilização desceu a um nível difícil de antecipar em 1994. Se descermos até 1984, o abismo é ainda mais pronunciado. Basta rever a série da minha infância, "Era uma vez no Espaço". Parece de outra era, é lenta, dá tempo para pensar, coloca questões morais e filosóficas às crianças . Não é apenas mais complexa do que as séries e filmes de animação de hoje, é mais densa do que boa parte dos filmes para adultos de 2013.
É triste, mas a maioria das crianças e adolescente de hoje não consegue ver "O Rei Leão" (já fiz a experiência). Não têm a capacidade de ficarem sossegadas a ver uma história densa. Para ser visível hoje em dia, "O Rei Leão" precisaria de distracções a cada cinco minutos e a história nunca poderia ser tão trágica. O nosso ambiente infantilizado assim o exigiria. Querem um exemplo? Ontem, mesmo antes do "Rei Leão", a SIC passou um filme do Urso Pooh. O coelho do grupo empunhava um mata-moscas velho e dizia que queria um mata-moscas novo pelo Natal. Mas alguém achou que o coelhinho não podia dizer "mata-moscas" e, por isso, inventaram o termo "enxota-moscas". A palavra "mata-moscas" seria demasiada negra para as criancinhas, não é verdade? Os desenhos animados de hoje são assim: polidos "enxota moscas", histórias cobertas por uma camada higiénica que impede a entrada de questões morais como o mal, a perda, o medo, a morte. Aliás, já nem sequer há histórias. Os canais de desenhados animados que enchem a tv por cabo substituíram as histórias por programas interactivos. Os bonecos já não são personagens de narrativas com um fundo moral, são anfitriões de jogos de computador que interagem com as crianças, "olhem, vocês aí em casa, agora aprendam a contar", "agora dancem como eu".
No espaço de uma geração, o Ocidente inteiro esqueceu a lição dos contos de Andersen e dos Grimm: o terror e o mal existem nas histórias infantis, porque o contacto com o medo é o único caminho para a formação de entes morais. A moral não se ensina em abstracto. O mal e a tragédia do "Rei Leão" têm um papel formativo na cabecinha das crianças. E na nossa também, porque os tios também vêem o "Rei Leão", um filme para crianças de 1994 que é mais adulto do que a maioria dos filmes para adultos que Hollywood faz hoje em dia. 


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